Os três nomes da Igreja Assembleia de Deus no Brasil


Creio não ser novidade para os assembleianos que o primeiro nome da sua denominação não foi Assembleia de Deus. No Brasil, o pentecostalismo teve inicio com o nome Missão da Fé Apostólica, que designava as igrejas ligadas ao movimento iniciado por Charles Fox Parham (1873-1929). E não foi por pouco tempo. Até ser adotado o nome Assembleia de Deus, quase sete anos depois, a doutrina pentecostal já havia chegado aos estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas, Amapá e talvez Amazonas. Portanto, quando os nosso livros de história dizem que a “Assembleia de Deus” chegou a esses estados na verdade  querem dizer “Missão da Fé Apostólica” (um anacronismo normal nesses casos), porque o outro nome até então não existia aqui.
O nome Assembleia de Deus foi escolhido quando se decidiu que a igreja precisava ter personalidade jurídica, e foi registrada assim em 11 de janeiro de 1918. Segundo o testemunho de  Manoel Maria Rodrigues, o primeiro presbítero assembleiano do Brasil, o nome foi escolhido numa parada de bonde [...].
Mas agora vem o detalhe curioso, que descobri ao consultar o livro A história da igreja-mãe das Assembleias de Deus no Brasil, editado pela própria: o primeiro nome oficial da denominação foi Sociedade Assembleia de Deus. O nome Igreja Evangélica Assembleia de Deus veio a ser adotado mais tarde, mas desconheço em que circunstâncias.
Há também um fato interessante ligado a esse nome. O primeiro templo da denominação (foto ao lado) foi inaugurado em 1914, quando o nome ainda ainda era Missão da Fé Apostólica. No entanto, a foto que costumamos ver da fachada desse templo, e que parece a única a ter sobrevivido, traz o nomeAssembleia de Deus. Mas creio que a explicação é simples: a foto deve ser de um período posterior a 1918, quando o antigo letreiro, se é que havia algum, já tinha sido substituído.
Algumas curiosidades sobre a Assembleia de Deus
Folheando hoje um exemplar do jornal O Assembleiano, que editei em 1991, deparei com uma página de curiosidades sobre a Assembleia de Deus. Foi na edição em que publicamos a matéria dos 80 anos da denominação no Brasil. Reproduzo aqui algumas delas, com as devidas ou arbitrárias adaptações e alguns adendos.
Datas importantes
19 de novembro de 1910 — Os pioneiros Daniel Berg e Gunnar Vingren chegam a Belém do Pará.
13 de junho de 1911 — Um grupo de irmãos é cortado da comunhão da Igreja Batista por aceitarem a doutrina pentecostal.
18 de junho de 1911 — O culto realizado nesse dia, na casa da irmã Celina Albuquerque, com a presença de excluídos e alguns ainda membros da Igreja Batista, marca o início da Assembleia de Deus no Brasil. É a data em que se comemora a sua funda­ção.
11 de janeiro de 1918 — A denominação é registrada oficialmente como pessoa jurídica e adota o nome Assembleia de Deus (antes disso, chamava-se Missão da Fé Apostólica).
Primeiro batismo no Espírito Santo
A primeira pessoa a receber a pro­messa do batismo com o Espírito Santo no Brasil foi Celina Albuquerque, no dia 2 de junho de 1911. Depois de um culto em que buscava o batismo, ela continuou orando em casa. À uma hora da ma­drugada, começou a falar em línguas, só parando duas horas depois.
Getúlio Vargas
O presidente Getúlio Vargas, que tomou o poder no Brasil após a sua vitó­ria na revolução de 1930, manteve boas relações com a Assembleia de Deus. A explicação é que vários de seus parentes eram crentes pentecostais.
Dólar — mau negócio
Uma interessante nota sobre o câmbio na época dos pioneiros. Numa carta datada de 1932, Gunnar Vingren fala do sustento que recebia do exterior: “A moeda brasileira subiu aqui neste último tempo, de forma que rece­bi menos pelos dólares a mim enviados”.
A escolha do nome Assembleia de Deus
O nome da denominação foi esco­lhido, segundo o testemunho de Manoel Rodrigues, um dos primeiros assembleianos brasileiros, numa parada de bonde. Gunnar Vingren perguntou a um grupo de irmãos que após o culto estava aguardando a condução qual nome se deveria dar à jovem igre­ja, que estava para adquirir personalidade jurídica. Explicou-lhes que nos Estados Unidos as igrejas adeptas da doutrina pentecostal usavam o nome “Assembleia de Deus” ou “Igreja Pentecostal”. Todos decidiram pelo primeiro.
Costumes
No dia 1.° de janeiro de 1935, a denominação aprovou uma disposição em Assem­bleia Geral sobre o “uso de mundanismos que se querem insinuar dentro da Igreja de Deus”. Foi resolvido que a partir daquela data a irmã que cor­tasse o cabelo seria excluída do rol de membros.
Gentinha?
O Isael de Araujo, autor do Dicionário do movimento pentecostal, numa conversa ao telefone chamou a minha atenção para um ponto interessante. A Assembleia de Deus por muito tempo foi considerada uma igreja de pobres e, de fato, sempre se identificou com a parcela menos favorecida da população. Entretanto, o grupo pioneiro, oriundo da Igreja Batista, de forma alguma se encaixava nesse perfil, pois seus membros eram, em grande parte, representantes das classes média e média alta de Belém do Pará.
Assembleia de Deus: um nome que dá o que falar
No dia 16 de janeiro deste ano, publiquei, pela série Centenário da AD no Brasil, o artigo Os três nomes da AD no Brasil, referente aos nomes pelos quais a denominação foi conhecida até hoje em nosso país, baseado principalmente no livro A história da igreja-mãe das Assembleias de Deus no Brasil, publicado pela AD de Belém do Pará, e no texto faço algumas conjecturas, partindo do pressuposto de que o nome Assembleia de Deus só passou a ser utilizado no Brasil em 1918, quando a denominação foi registrada.
No entanto, passou-me despercebida a informação de que em 1917, Frida Vingren, recém-chegada ao Brasil, escreveu para a Suécia informando que sobre a porta do primeiro templo, inaugurado em 1914, estava o nome Assembleia de Deus. Essa informação consta do Diário do pioneiro, página 93 (da edição antiga, de 1983, que utilizo). Está registrada também no Dicionário do movimento pentecostal, que só adquiri alguns dias depois de ter publicado a matéria.
Além disso, o nome Assembleia de Deus já era conhecido dos missionários desde 1914, quando foi fundada a denominação nos Estados Unidos (Assembly of God). Consultando o próprio Dicionário, descobri que os nomes Fé Apostólica e Assembleia de Deus eram usados de modo intercambiável entre 1914 e 1918 no Brasil, mas o último caiu nas graças do povo, daí ter dado nome ao primeiro templo.
Na verdade, quem me alertou sobre o fato foi o próprio autor do Dicionário, o pastor Isael Araújo, a quem sou muito grato, pois fez a gentileza de me ligar na semana passada e esclarecer todos os pontos. Vamos, portanto, à seção “Melhor dizendo…”:
No artigo citado, digo que “a doutrina pentecostal já havia chegado aos estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas, Amapá e talvez Amazonas” sob a designação “fé apostólica”, mas o nome Assembleia de Deus talvez fosse conhecido nesses lugares desde o início, porque o pentecostalismo parece não ter chegado a outros estados antes de 1914.
O nome Assembleia de Deus foi escolhido mesmo numa parada de bonde, mas a escolha talvez se refira ao nome do primeiro templo, não ao do registro da denominação. Se foi o segundo caso, tratou-se apenas de confirmar o nome.
Na História da igreja-mãe, consta o nome Sociedade Assembleia de Deus, mas oDicionário, que reproduz o estatuto, traz Sociedade Evangélica Assembleia de Deus.
Pelo fato ser mera conjectura baseada no pressuposto inicial e por não fazer muito sentido diante das “novas” informações, o último parágrafo deve ser desconsiderado.

Nota: as informações acima foram extraídas do blog O BALIDO - Blog do Judson Canto, de três artigos nele publicados.

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